… e o Prêmio Nobel de Literatura “não” vai para Cormac McCarthy e Margaret Atwood
Será a vez de um africano ou de um asiático? Será a vez de um latino-americano? Pode celebrar Lobo Antunes ou Joyce Carol Oates? Só a Academia Sueca sabe
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Será a vez de um africano ou de um asiático? Será a vez de um latino-americano? Pode celebrar Lobo Antunes ou Joyce Carol Oates? Só a Academia Sueca sabe
Durante anos, os leitores, críticos literários e jornalistas “davam” o Nobel de Literatura para Philip Roth e a Academia Sueca retirava. Aí, como a idade chega para todos, o autor de “O Complexo de Portnoy” e “O Teatro de Sabbath” — quem não leu não merece, claro, uma sova física, só uma pisa verbal — morreu e não levou o cobiçado prêmio. Na quinta-feira, 10, os suecos darão o Nobel de Literatura para dois escritores, porque a premiação não saiu no ano passado. Não farei mais nenhuma lista, é claro. Não farei? Bem, não há jeito de não mencionar os meus favoritos, que, em geral, não são os mesmos dos homens de gelo.
Os poetas Carlos Willian Leite, Irapuan Costa Junior, Iúri Rincon Godinho e Marcelo Franco (sim, o homem é poeta, mas não divulga, seguindo o exemplo de Emily Dickinson) certamente dariam o Nobel de Literatura a Cormac McCarthy. Carlos Willian chega a dizer que se trata do maior escritor vivo. Há dois drummonds no meio do caminho: o autor do romance “Meridiano de Sangue” é americano e nada midiático. Mas merece mesmo o Nobel, resta saber se o Nobel o merece.
Dos Estados Unidos, vale lembrar ao menos mais dois autores de rara excelência: Joyce Carol Oates (“A Filha do Coveiro”) e Richard Ford. Joyce Carol Oates é tão boa escritora quando Cormac McCarthy.
O Brasil pode apresentar uma lista de escritores excepcionais: Ana Maria Gonçalves (“Um Defeito de Cor” é um romance magnífico), Ronaldo Correia de Brito, Cristóvão Tezza e Milton Hatoum. Os portugueses, como meu apoio ineficaz, certamente bancam o grande António Lobo Antunes e notável Lídia Jorge.
Como são duas premiações, daria uma ao tcheco Milan Kundera. A crítica parece não tê-lo perdoado por ter feito sucesso com o romance “A Insustentável Leveza do Ser”, levado ao cinema com igual sucesso. Trata-se de um belo romance e Kundera escreveu contos e romances de alta qualidade a seguir, além de ensaios literários cada vez mais refinados.
Os ingleses podem bancar Julian Barnes, Martin Amis e Ian McEwan. Dos três, daria a McEwan pelo o insuperável romance “Reparação”.
Os franceses indicariam Michel Houellebecq? Não sei. Mas daria polêmica. Até porque, como Sartre, talvez rejeite o prêmio.
Por que não premiar a grande poeta uruguaia Cristina Peri Rossi, até para torná-la mais conhecida? Além de poeta, escreve crítica literária. Minha amiga Fedra Rodríguez, ótima tradutora, aprovaria a indicação de Peri Rossi.
A psicanalista Candice Marques possivelmente bancaria a argentina Samanta Schweblin, autora de contos estranhos, mas, sobretudo, muito bem escritos. Ah, a Academia Sueca não aprecia conceder prêmio a escritores jovens. Pois bem: Samanta Schweblin, que mora na Alemanha, tem 41 anos… Que tal Mariana Enriquez, outra ótima escritora argentina? Ah, só tem 46 anos.
Os sites de apostas, que acertam tanto quanto eu, sugerem que a canadense Margaret Atwood é uma das favoritas. E, se ganhar, será merecido. Escreve prosa refinada e complexa, como “O Conto de Aia”. E, sim, é ótima crítica literária. Por seu intermédio, conheci grandes escritores canadenses, como Carol Shields.
O site de apostas britânico Nicer Odds menciona, além de Atwood, a poeta canadense Anne Carson, que não li. Maryse Condé, guadalupense, Olga Tokarczuk, polonesa, e Lyudmila Ulitskaya, russa, estão na lista dos favoritos.
O influente crítico literário Harold Bloom escreveu sobre Anne Carson: “Como sou vinte anos mais velho do que ela, me entristece pensar que deixarei este mundo sem levar comigo toda a obra de uma vida desta poeta singular”.
Há quem acredite que Haruki Murakami, o queridinho da imprensa, vai para o trono. A pedra no caminho pode ser o fato de que um japonês ganhou o Nobel há pouco tempo. Mas esqueceram o notável poeta sírio Adonis? Frise-se que fará 90 anos em janeiro de 2020.
Pensando bem, leitor: esqueça os que indiquei para o Nobel de Literatura… Pois só ganharão os que não indiquei. O poeta Cezar Santos postula que jornalistas do último mundo não devem palpitar sobre a escolha de escritores para o Nobel de Literatura. Talvez tenha razão. Com sou teimoso, estou na primeira fila, torcendo para McCarthy, Carol Oates e McEwan. O amigo Cezar Santos por certo torce por Michel Houellbecq.
A intelligentsia da Academia Sueca dará um dos prêmios para um escritor envolvido em lutas sociais e raciais? Quem sabe. Mas, depois de J. M. Coetzee (sul-africano branco), por certo não dará para os excelentes José Eduardo Agualusa e Mia Couto, que, embora africanos, são brancos…
Será a vez de um africano? Será a vez de um asiático? Será a vez e um latino-americano? Só a Academia Sueca sabe.
É praticamente certo que, sendo dois prêmios, ao menos uma mulher será agraciada. Oxalá sejam premiados escritores-escritores e não escritores-militantes.
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